terça-feira, 11 de novembro de 2008

Seria Intenso caso existíssemos


Seria intenso caso existíssemos...

Foi o que ela me disse assim que terminou a aula de Filosofia. A gente estuda, estuda, faz um vestibular concorridíssimo, passamos finalmente após sete anos de tentativas frustradas e no primeiro dia de aula a professora de Filosofia diz sem nenhum pudor ou piedade que não existimos e tudo que aparentemente existe não passam de uma mera adaptação para vivermos nossas vidas mais confortavelmente sem desconfiarmos desse fato expressivamente inquietante. Somos uma verdade imaterial. Pois bem, foi justamente assim que a conheci: olhei-a vindo em sua despercebida beleza morena, graciosa e desinteressada. Surpreendi-me quando meus olhos (que não existem) captaram uma imagem formidável que se adaptou bem a meu bel-prazer e á minha retina mesmo sendo míope.

Tinha a sensação obscura de conhecê-la, de alguma forma imaterial eu a conhecia sem reservas. Sentou-se perto. Na cadeira da frente. Essa proximidade física (que na realidade é puramente eletromagnética) quase me deixou sem fôlego mesmo após a professora anunciar um fato tão indubitável e com tanta propriedade.

A teoria Rutherforborhiana diz que a parte "sólida" do átomo, o núcleo, infinitesimamente pequena em relação ao tamanho do átomo inteiro e o resto (os elétrons) é energia pura. De forma a manter estabilidade o núcleo é positivo e os elétrons, negativo fazendo com que haja a anulação de qualquer atração interna. E isso comprovei naquele momento quando toda minha energia (porque sou todo energia, baby!!! Com 0,000001% de solidez insana) converteu-se, atraindo a atenção e os elétrons ilógicos daquela moça à minha frente. Quando tivemos o primeiro contato, milhares de elétrons criaram uma corrente de sentidos opostos se chocando e se atraindo numa humanidade ameaçadora. Por um momento pensei que todos os átomos do meu corpo entrariam em fissão pela elevada quantidade de nêutrons radiada em minha direção.

Anos depois, deitados na grama e observando as estrelas, ela me diria que sempre tivera a impressão de me conhecer; de que eu era muito familiar e isso é lógico pois átomos de meu corpo estariam presentes no dela que por sua vez haviam pertencido à matéria da grande explosão.

Ela dissera: seria intenso caso existíssemos e sorriu, mas eu sabia o quão intenso havia sido mesmo se não existíssemos. Ah! Humanidade desafiadora de não existir! Então o humano é um não-ser, o ser humano é uma impressão energética que temos de nós mesmos.

Enquanto a professora continuava com sua preleção, eu sentia a energia destruidora da moça da cadeira da frente. Seus cabelos, sua pele homogênea, seu arranjo e ligações atômicas me faziam perceber o quanto era bom não existir, caso não existir fosse tudo aquilo e se fosse, jamais quereria existir.

Ela disse: seria intenso caso existíssemos, então sorriu e me disse seu nome. Desde então não queria sair de perto dela, mesmo que ela não existisse, mesmo que eu não existisse.

Estava viciado em não existir.

Não disse meu nome. A aula havia acabado bem na hora e mesmo se não tivesse acabado não teria como falar, pois a voz me faltava às cordas, aliás, as ondas sonoras não se propagariam pelo vácuo da minha alma obsoleta naquele instante insano.
Eu esperava ansioso pela próxima aula e a próxima e a próxima, mas jamais revelaria a ela que havia sido intenso justamente pelo fato de não existirmos.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

POstagem de Última hora!

Faltam dois minutos pra madrugada...La fora chove uma chuva fina e cretina. Cá dentro não chove mas sinto o cheiro e o frescor da chuva. Ah, as chuvas sempre trazem boas lembranças...principalmente quando não estou debaixo dela!!!