segunda-feira, 25 de abril de 2011

Noites


Noite solitária que me inspira, me aborrece, me aquece, me enlouquece.

Me fragmenta, me devora, me solidifica, me alegra, me emudece, me apazigua, me consome, me vomita, me irrita, me isola.

Me decanta (pingo a pingo), me reflete, me põe medo, me atormenta, me acalma, minha alma, me ignora.

Noite insana com tantos sentimentos e sensações que resultam apenas em uma coisa: Insônia.

domingo, 24 de abril de 2011

Matemática Simples




Pensei em ti por novecentos e noventa e nove dias seguidos. Cada dia pensei em ti novecentos e noventa e nove vezes, sem falhar nenhuma vez em nenhum dia. Para que toda liturgia sacra se cumprisse conforme todos os preceitos sacros de tua santidade demoníaca, via todas as manhãs claras e não claras, as nossas fotos tiradas na polaroide naquela viagem que fizemos à marte, naquele dia de verão na pista de neve no sul do polo sul, no dia em que completastes novecentos e noventa e nove anos e te fiz um bolo tão delicioso que jogamos no lixo juntos. Ao todo eram novecentos e noventa e nove fotos, meio amareladas pelo tempo e pelo manuseio. Todas elas com teu sorriso pequeno e teu olho de águia a me olhar e me encantar e me perder... na esperança de ser encontrado por ti que me fizestes essa promessa, mas que agora não cumpres.

Ao meio dia - exatamente ao meio dia - almoçava a refeição que tu mais gostavas e bebia um enorme copo de suco de goiaba sem se quer gostar de goiaba. À noitinha, quando o sol vermelho turvo já tinha descoberto seu novo posto lia religiosamente teu diário que esquecera em minha gaveta secreta de pertences secretos e até hoje, depois de muito tempo, não sabes onde colocou e imaginas quem lera os pensamentos secretos que um dia foram, boa parte deles, pra mim. E assim vivi todos os novecentos e noventa e nove dias, um após o outro e um dia de cada vez com uma constante sensação de membro amputado, com o eterno pressentimento de que o despertador tocaria a qualquer momento e tudo aquilo fosse apenas um sonho ruim (de péssimo gosto, diga-se de passagem).

Entre ver as fotos, almoçar teu almoço e ler-te pensar eu fazia o que tinha de fazer: trabalhava, estudava, pagava as dívidas, bebia, fazia dívidas, cortava o cabelo, fazia a barba, tentava dormir (sem sucesso), bebia, tentava conhecer outras pessoas, conhecia outras pessoas (sem sucesso), conversava com amigos, tomava café, consertava o pneu da motocicleta velha com motor fundido, cuidava do meu filho, lia todos meus e-mails, respondia todos os meus e-mails, lavava as roupas, passava as roupas, bebia, tentava ser uma pessoa decente e normal apesar de não ser normal.

Lembro-me hoje (e até com certa comicidade que na época não tinha) que esperei por teu telefonema - que nunca veio – Olhei na caixa de chamadas recebidas dos celular novecentas e noventa e nove chamadas que não foram as suas. Nenhuma se quer, muito embora houvesse novecentas e noventa e nove ligações para ti, sem resposta ou perspectiva de resposta e fui me convencendo de que estava perdendo a conta dos meus dias, das minhas horas vazias de números complexos fatoriais... tentei por uma ultima vez recompor todos os fragmentos de mim espalhadas em novecentas e noventa e nove partes e integrá-las com Leibniz assim ensinou, mas não tive sucesso, matemática nunca foi meu forte.

Quando finalmente cheguei ao noningentésimo nonagésimo nono dia, faltando novecentos e noventa e nove segundos para seu fim notei que a matemática requerida para a situação era tão complexa que debruçava-se sobre si mesma milhões e milhões de vezes criando um atrator estranho que levou-me de ti, das tuas fotos minhas, do teu almoço, do teu diário e do teu desprezo: hoje, o milésimo dia se quer penso noventa e nove virgula nove por cento que estive ao seu lado, que fui você, quis você, chorei você, dormir (ou não dormi) você... penso apenas - e agora com novo ar de obsessão – nos zero vírgula um por cento que poderia ter vivido contigo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

"Tudo que vai"

Esse texto é de uma escritora em ascendência vertiginosa: Polianna

Martins
!!!
É realmente um belo texto e merece ser reblogado. Então, com

sua licença poética, Polianna, publico-lhe:

"Tudo que vai..."





Te esperei, e espero todas as noites, sufocando o choro no travesseiro, afagando meu próprio cabelo, e limpando a maquiagem borrada dos olhos com o lençol, que tem seu cheiro. Te espero, conto os segundos do relógio que você me deu tempos atras, e assim vou esperando, imaginando seu vulto entrar por aquela porta que tanto nos viu passar, que tanto nos sustentou,

tomados pelo desejo, pela loucura de momento, tantas vezes presenciou nossas brigas, nossos gritos de amores incontroláveis. Eu ainda espero sabe, confusa, silenciada por tantas palavras que foram ditas por silêncios de olhares, espero feito boba, louca, perdida. Com essa esperançazinha guardada no fundo do peito.


Polianna Martins