terça-feira, 30 de outubro de 2012

Uma Luz no Fim do Tunel


(Galera, um texto de um grande amigo Leonardo Brito que resolvi postar. Boa Leitura)

Por Leonardo Brito



Após três meses de julgamento, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou 25 pessoas no mais atrevido e escandaloso caso de corrupção da história do Brasil, O MENSALÃO. O julgamento, com 38 réus denunciados pelo Ministério Público, teve início no dia 2 de agosto de 2012 e deverá ser concluído em novembro.
Em meio a dezenas de datas vênia e outras expressões de efeito, o julgamento foi marcado por embates entre relator e relator revisor. A acusação do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, contou até com citação de uma letra musical de Chico Buarque: “dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”.
O mensalão era visto pela sociedade como algo que não iria dar em nada, ou seja, a sociedade sempre teve o sentimento de que políticos não são condenados. O burburinho em todas as camadas da sociedade era o mesmo: isso não vai dar em nada. No entanto, o povo assistiu, após quase três meses de julgamento, a condenação de 25 pessoas pela corte suprema.
Agora, depois de tanta repercussão, o que devemos perguntar é: será que esse julgamento trará mudanças ao sistema político brasileiro? Será que os políticos brasileiros passarão a temer a justiça? Será que a justiça brasileira terá, em fim, coragem de condenar políticos de forma célere? Todos querem acreditar que sim, que esse julgamento seja como uma luz no fim do túnel, o surgimento de um novo tempo.
Espera-se que esse julgamento traga mudanças na forma de se fazer política e na forma de gerir a coisa pública. Que políticos e gestores públicos caminhem na direção da ética e do bem comum, sabendo que qualquer prática ilícita é punida pela justiça brasileira. Que aqueles burburinhos sobre impunidade transformem-se em certeza de punidade para aqueles que profanam a República.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Transação Perfeita





Ele saiu decidido a não ser convencido, não ser ludibriado, envolto em fumaças ou preso em espelhos. Já conhecia  há tempos aquela determinação atroz... Sabia bem da inexorabilidade das decisões que ela tomava. De fato não era a primeira vez que essa cena cíclica acontecia. Passaram por isso muitas vezes durante aquele tempo curto em que estiveram juntos.
O plano fora mil vezes traçado: chegar, cumprimentá-la cordialmente, sem muita frieza, mas também sem calores ou mostras de ressentimentos, resquícios de esperança. Pegar os objetos -espólios de uma guerra impensada e inconsequente- desejar uma ótima noite e uma vida repleta de felicidades. Sem abraços, seria desconcertante para ambos.
A minguante se encarregaria de escondê-los na penumbra, afinal despertaria comentários por parte dos vizinhos. Uma transação simples e perfeita.  A minguante se encarregaria de escondê-los na penumbra de modo que seus olhos não se cruzassem repentinamente e ambos em rocha se transformassem. Uma transação simples.
Perguntas sobre o passado estariam terminantemente proibidas, de todo modo não havia ponte longa o bastante que fizesse aproximá-los novamente. Então porque o frio na barriga? Porque o preparo, o perfume que ela gostava, a roupa limpa, o cabelo cortado, a barba feita, o relógio que ganhara dela? Apenas detalhes! Não havia ponte longa o bastante...
O momento tão ensaiado e inconscientemente esperado: vê-la. Nunca fora uma tarefa fácil ou trivial vê-la. Nunca! Seja por um estouro de felicidade ou um acesso de fúria, vê-la causava reações. Seria diferente agora? Ele se aproxima a pés. Tomou o cuidado de que ninguém os visse. Esperou que a rua perdesse o burburinho e a minguante espalhasse penumbra. Seguia um caminho em linha reta com os olhos fixados na ponta dos próprios pés. Não gritou no portão como de costume. ... meticuloso no repasse do plano mil vezes traçado.
Enquanto o telefone chamava, uma calma insana tomava-lhe de assalto. Cuidou que do outro lado não fosse outra pessoa. Confirmou sua voz. De fato era sua voz! O tempo entre o telefonema e os passos miúdos foram tão eternos quanto o prelúdio da morte. Nunca fora uma tarefa fácil ou trivial vê-la... e lá estava ela impassível em sua superioridade disfarçada, o desdém forçado, mal lembrava ela que nunca controlava as têmporas quando estava nervosa, que não deixava o cabelo solto e logo prendia ou que falava tantas coisas idiotas pra encobrir o estupor da surpresa.
Num sobressalto impensado e todo plano pensado vai por água abaixo: aparece o abraço desconcertante, curto e sem a menor fagulha perceptível. A minguante, pobre minguante, certa de cumprir sua missão, viu-se fracassada frente à luz do poste e os olhos, conscientes de não poderem se olhar, olharam-se por alguma feitiçaria magnética. A rua que repousava na tranquilidade passou a movimentar-se como se dia de feira fosse. E quando ele esperava que nada mais pudesse dar errado de seu plano mil vezes traçado, toda família dela chega de uma comemoração e os flagra imóveis feitos rochedos personificados.
A despedida, entretanto, seguiu o plano só para variar. A experiência anterior também não permitiu abraços. A transação dos espólios de uma guerra impensada e inconsequente concluída. Rompidos todos os laços insipientes e matérias que ainda os unia: cumprimentos cordiais, sem frieza, sem calores, sem mostras de ressentimentos ou resquícios de esperança. Um aperto de mão e nada mais. Não olharam para trás, ela voltando silenciosa, majestosa em sua certeza inabalável. Ele pateticamente olhando a ponta dos sapatos incerto de suas certezas e frustrado em todo plano mil vezes traçado e mais uma história encerrada na cadeia de história cíclicas do mundo, tão diferentes em seus detalhes, tão surpreendentemente semelhantes em sua essência na marcha incansável do tempo.

terça-feira, 20 de março de 2012

Secretaria de Juventude, política do Distrito Federal e Stand Up Comedy: quanta semelhança

Ontem estava assistindo alguns vídeos de stand up e notei que nossos governantes são verdadeiros comediantes. Eles possuem habilidades com as palavras, são eloquentes, engraçados e o melhor, quanto mais besteira falam, mais populares são, pagamos caro pelo show bizarro e ainda temos a obrigação de não apelarmos com suas piadas quando nos pegam pra cristo.

A extinção da Secretaria de Juventude é um exemplo da piada mais recente. É lamentável o descaso com que a juventude do Distrito Federal é tratada por um governo onde os gastos com pessoal já atingem o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei complementar 101/2000). Numa situação de cortes de gastos a primeira secretaria a acabar é a de Juventude, mesmo sabendo que tem baixo custo de manutenção comparado a Secretarias como a de Governo com centenas de cargos e salários altíssimos... Vale lembrar que a criação de nossa Secretaria foi (verbo SER no pretérito perfeito do indicativo ao contrário da maioria dos atos do governo até o momento) um compromisso de campanha. É como dizer: “Taí, galerinha, criei a Secretaria. Agora vou “descriar” tá bom, meu compromisso foi cumprido...” a velha pegadinha do malandro e um “glu-glu” enorme pra juventude.

Assim como Sérgio Malandro fazendo Stand Up de piados sacaneando a si mesmo, o Governador age na base do improviso só não com a mesma habilidade que os grandes comediantes do Estado. O governo não tem objetividade, não tem planejamento a curto muito menos em longo prazo e enquanto isso uma reapresentação sem graça de piadas repetidas sobre operações tapa-buracos e revitalização de calçadas são veiculadas no horário comercial.

A Secretaria da Juventude até o momento não teve condições de mostrar seu trabalho por uma série de motivos: falta de estrutura, poucos recursos (uma secretaria sem unidade orçamentária não possui independência para implementar políticas públicas); áreas do próprio Governo que dificultavam a colocação da pauta da juventude como uma prioridade e finalmente um recém chegado comediante que faz stand up sobre locais de blitz pelo twitter. Não obstante, mesmo com todas as dificuldades a Secretaria desenvolveu projetos interessantes com a Feira do Jovem Empreendedor em parceria com SESC, SENAC, SEBRAE, Secretaria de Ciência e Tecnologia, Secretaria do Trabalho; Juventude Consciente, Centros de Referência da Juventude dentre outros.

É igualmente lamentável a capacidade que alguns comediantes consagrados do Estado têm de transforma, por meio da mídia, notícias de retrocesso em espetaculares medidas de economia, reajuste; usando termos e jargões tão bonitos da economia que parece assunto sério quando não passa de mais uma pegadinha do Malandro. Hoje temos uma gestão concentrada nas mãos do Secretário de Governo. A politicagem, a disputa por espaço (na verdade por cargos), a utilização da máquina para fins próprios vão de encontro com a finalidade de um Estado Democrático, a saber, o bem coletivo. Hoje se faz mais disputa partidária do que política pública de fato. Um palco montado e iluminado para mais piadas sem graças, dentre elas: 5000 cargos comissionados, os maiores salários estão concentrados lá, tudo passa pelas mãos desse assistente de palco que mais parece o comediante principal. Pelo visto o espetáculo é mais sem graça do que parece.

Comédia a parte, a Juventude do Movimento PT de São Sebastiao está resignada pelo retrocesso representado pelo fim da Secretaria. Com um passo à frente e dois para trás só se caminha como caranguejo. Enquanto isso assistimos ao show de piadas, sempre as mesmas, apresentação após apresentação, com preços absurdos. A diferença é que a plateia não está mais achando graça nenhuma.