Gosto do
silencio da casa desabitada. Os espaços vazios são tão atraentes quanto a
distância... gosto de saborear a imensidão da amplitude, a ilusão do olhar e a
lacuna entre os dias.
Gosto de todas
as palavras que não foram ditas. Do entretempo da voz, do lapso da memória e da
perda do olhar no horizonte. Gosto de não pensar sobre o assunto, não resolver
o problema, não ir além... as freses reticentes são construções semânticas das
mais belas de tão ilógicas que podem se tornar.
Gosto de todos
os assuntos que ainda não tiveram espaços nas enciclopédias. Todas as conversas
não profícuas, todas as sensações que parecem não existir no mundo material.
Gosto de pensar sobre possibilidade de interrupção do pensar e absolver toda
futilidade das horas perdidas.
Gosto de
perder tempo com todas pessoas que não valem a pena. De chafurdar as gavetas de
lembranças e resgatar qualquer coisa que valha a pena resgatar, tirá-las,
olhá-las e guarda-las novamente só que dessa vez em gavetas cada vez mais
inacessíveis até chegar o dia que o próprio resgate não valha a pena ou seja
inviável.
Gosto do
inviável e do impossível. Dos extremos (e por que não do meio); da
improbabilidade da conduta e da surpresa que todos se esqueceram de
comparecer. Gosto de tantas coisas que
até dá preguiça!
Aí me perco em todos os espaços reticentes, em todas as
ilusões. Detenho-me em cada palavra não dita e espero o entretempo do lapso da
memória. Converso sobre todos os assuntos importante apenas pra entender quais
são os supérfluos. Insisto na companhia dos emprestáveis para evitar sair dessa
condição e encontro nas improbabilidades as mais incríveis chances de se
chegar a lugar algum.
Nessa toada
passo pela vida com a doce consciência do anonimato, onde apenas me dou a
conhecer por aqueles que partilham a
mesma insanidade faminta e incomum pela humanidade contida.