domingo, 28 de dezembro de 2008

Caixeiro Viajante


Era um senhor com seus 50 anos. Sustentava um aspecto insone, olhos fundos, parecia que não dormia a dias. Olhos inchados e tristes emoldurado por uma máscara facial cansada e cheia de nostalgia.

Viaja durante quase o ano todo. Piauí, Sergipe, São Paulo... Paraná, Amazonas, Amapá... Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Minas, Brasília, Tocantins... Paraguai e tantos outros lugares que já perdera as contas.

Da janela do ônibus observava pessoas e lugares, vivendo e revivendo momentos singulares de sua vida nômade. Sempre gostou dessa vida, tanto que a fizera de profissão. Não tinha certeza se conseguiria ou sabia fazer outra coisa após todo esse tempo, correndo estradas e pontes, cidades e municípios com suas surpreendentes e indescritíveis paisagens, onde cada partida deixava saudades e cada chagada um novo desafio, um frio na barriga que nunca passava e cada instante cuidadosamente guardado como lembrança única. Ah, como fora feliz nesses anos... Mas estava cansado.

Por causa de suas idas e vindas, não tinha tato para estabilidade: estava no terceiro casamento, cinco filhos crescidos e um caçulinha de dois aninhos que era seu xodó e criptonita.
Em seu quarto de pensão olhava atento as fotos dos filhos, das três mulheres e percebia o quanto havia perdido, sentia por não ter visto seus filhos crescerem. Sentia saudades. Queria voltar. Sempre trazia consigo essas fotos que mostrava com orgulhos aos seus clientes ou quem quer que estivesse por perto e se interessasse a ouvir um velho solitário. Nesses momentos seus olhos se iluminavam com brilho límpido, sua face perdia todos traços da solidão da estrada, da saudade e despertava vívido e belo, como um inseto que sai de seu casulo despertando p interesse do mais displicente espectador.

Um dia acordou e decidiu voltar. Preparou-se, raspou a barba como sempre fazia durante todos esses anos. Vestiu sua melhor peça e tomou um ônibus em direção ao lar, cheio de saudade e ternura.

Quando chegou, beijou a esposa e seu caçula, fruto do último casamento e disse que dessa vez era pra ficar.
Mas não consegue! Os anos passam e o caixeiro viajante sente saudade da estrada, das incertezas, do frio na barriga, da vida vista da janela... e quando o verão chegou ela partiu novamente. Com seus fatos e suas fotos, suas lembranças e saudades na velha mala, sua fiel companheira e testemunha.

2 comentários:

BrunoMaximos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
BrunoMaximos disse...

Muito real esses versos simples. Isso é a retratação de uma vida inquieta, de peso do valor dos sentimentos, mas nessa história, para mim, o maior tesouro ficou em segundo lugar, os amáveis, a família, a esposa e a caçula. Eu não os deixaria, mas o caixeiro não sou eu... E para mim, o maior valor estar no sabor das pessoas que amamos, elas, amigos, pais e irmãos, são as razões de tantas felicidades e superações; quantas vezes foi um amigo que me mostrou o caminho quando a paisagem já não era o bastante para me fazer seguir. Ainda que por algum instante eu me sinta sozinho, lembro-me daqueles que conquistei, e quase os posso tocar pela grandeza de suas almas... Mas existe um amigo que nunca me deixa só, esse um dia eu conhecí, quando na cruz Ele me salvou....