domingo, 2 de janeiro de 2011

O FILME QUE NINGUÉM ASSISTE


Enquanto assisto uma linda mulher na TV ninguém me assiste. Nos filmes as personagens são embaladas por trilhas sonoras, iluminações multicoloridas, cabelos ao vento, câmera lenta... enfim, elas estão o tempo todo sendo assistidas. Na vida real não! Enquanto escrevo este texto ninguém me vê. Não há trilha sonora selecionada, a não ser a música ridicularmente alta colocada pelo vizinho e que me acordou hoje cedo. Enquanto eu penso não há ninguém “traduzindo” minhas ondas cerebrais em palavras. Ninguém lê na legenda o que eu penso e o que sinto e se sinto. Aqui também – e isso certamente é o amis assustador – não há roteiros. A vida não segue roteiros prontos e acabados com falas e cenas predefinidas. A vida corre um fluxo contínuo, uma história que tem um fim em si mesma: ela improvisa. Não há ensaios.

Quando se erra, se erra pra valer e o filme real continua. As palavras ditas não voltam atrás, apenas se perdoam quando há vontade. Não há marcação de palco e nem mesmo atores definidos. Se vive uma cena de cada vez numa tela imaginária que ninguém assiste.

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