Não era exatamente um desejo de
autodestruição o que ele sentia. Poderia ser uma tentativa frustrada de chamar
atenção, ou apenas tédio mesmo. O desespero sim era real. Tinha certo ar de
ansiedade nos gestos... uma inconstância na voz... uma insegurança ébria que
beirava a decadência. Na verdade era um cenário todo feito para a decepção. Um palco
armado para o soterramento do ego, do orgulho e dos dedos.
Não
fosse o instinto de autopreservação, certamente se jogaria de qualquer
precipício sentimental sem fundo. Uma queda eterna rumo a lugar algum e sem
possibilidade de volta aparente. Esses sentimentos escondidos... essa agonia
enclausurada há tempo tem o mesmo poder devastador dos dragões da mitologia:
quando sobem à superfície, Emergem, sobrevoam de forma bela, como uma dança
sincronizada, mas quando plainam destroem tudo o que tocam. Expelem fogo e
fumaça, inebriam e justamente por isso precisam ficar presos em algum lugar...
numa caverna repousando e quiçá jamais retornarem à superfície.
É
evidente que não é o caso aqui. O drama das palavras, o jogo sínico da prosódia
causa apenas uma esfera de ilusão: descortina-se as figuras de linguagens, os
artifícios estilísticos e os recursos metalinguísticos e o que resta é
exatamente o esqueleto fossilizado do que um dia foi reluzente e flamejante.
Que um dia foi quente e belo e novo, mas que agora sequer ficou fagulha...
Apesar
de tudo, a vida que planejou em três segundos, que arquitetou cada detalhe que
pôde em apenas três palavras se esfacelou no vento e ninguém mais soube da sua
existência. Parece que o dragão voltou ao descanso após um sobrevoou de
destruição. Ele (o dono dos sentimentos irrequietos) não atribuiu culpa. Não
acusou ninguém e muito menos amaldiçoou os signos dos zodíacos... apenas seguiu
um roteiro que os astros já haviam traçado.
2 comentários:
Porra...
Que texto doido, me fez pensar no dragão que anda sobrevoando minha vida!
Parabéns Madrigas!
Valew Diogueira.... Vamos caçar esse dragão e ver se não está faltando uma escama....
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