segunda-feira, 21 de maio de 2018

O Lado Vazio

  
   Existe um lado da cama que é vazio. Não tem lençol de algodão nem edredom quente e os travesseiros foram comidos pelas traças.

  Esse lado da cama não tem peso nem substância, não tem cor muito menos estampa. 
Não tem perfume doce, não tem cheiro de fluidos corporais que ficam em todas as camas que não possuem lados vazios.

    Nesse lado abandonado há muito, tem poeira suficiente pra cobrir uma cova. 

   Esse lado vazio não restou vida inteligente, hoje apenas habitado por microrganismos eternos e impassíveis de evolução: esse lado vazio da cama onde o tempo e o espaço se desencontraram restando apenas a dissonância do que um dia foi matéria, uma singularidade: o espectro da lembrança do fantasma do corpo que ocupou essa fração de tamanho indefinível.

Esse lado da cama um dia foi meu, hoje não existe mais: foi abandonado para preencher o lado que era seu.

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