segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma cena Pitoresca




Uma cena pitoresca.

No meio da madrugada a casa parece tremer de frio sob a chuva. O relâmpago ilumina o quarto vez ou outra para depois se ouvir um estrondo ensurdecedor. Como flashs poderosos disparados, a luz momentânea produz projeções de sombras fantasmagóricas. Um colchão velho cheio de traças, uma garrafa de água, um cobertor fino parece não ser o bastante para conter a febre. Mais um estrondo e ele desperta resfolegando.
A febre que sente não é física. Atormentado durante o sono desperta com imagens de um filme que já conhece muito bem. Cenas que se repetem em sua cabeça com uma frequência não captada por órgãos dos sentidos humanos. Uma agonia de não querer ser. Um frio na barriga que parece ser a alma tentando se esconder no estômago (ou mariposas).

Mais um relâmpago, mais sombras...

O limiar da luz é onde se forma a sombra. Aonde a luz não chega, a escuridão é deusa. Aonde a luz não chega!

O sono não volta mais – Pensa.

Reflete sobre isso e vendo que o relâmpago de 300.000 km/s não o alcança, percebe-se imerso na escuridão. Olha em volta e como não há mais que o velho colchão cheio de traças – que agora deixam o colchão e se alojam em seu estômago –, sente-se perplexo e só.

A chuva se amansa. Os flashs diminuem, a escuridão aumenta. Agora com todas as traças em seus estômago, se espremendo entre as microvilosidades e a alma (ou mariposas), sem móveis em sua ultima noite numa residência que não é sua, pede apenas que amanheça logo mesmo que a chuva permaneça por longos meses.

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