quinta-feira, 2 de outubro de 2008

As intermitências do vinho Barato

Sento-me à mesa e como meu espaguete às três da madrugada. Tomo uma garrafa de vinho, sozinho, para tentar ser italiano. Olho pela vidraça e vejo um fio de lua. A lua nunca é a mesma nas cidades grandes com suas luzes ofuscantes, seus ruídos ensurdecedores.
Volto meu olhar míope e a vejo doce e fresca e lânguida. Como o vinho sorvo toda sua doçura de uma vez só, como se essa ânsia fosse realmente aplacar minha sede de acalanto. Percebo em seu sorriso algo de insano, polar e alcoólico, algo que não posso entender. Seria timidez? Seria paixão? Ou apenas uma tentativa inexpressiva de ser vista na escuridão?
Poderia encontrar medo. Mas a essa altura da madrugada não seria nada mais que vinho barato.
Saio da sala para o quarto e do quarto para a sala e ela permanece lá. Imóvel. Irracional. Meu corpo todo treme pela simples possibilidade de tê-la. Imóvel. Irracional. Meu corpo todo treme. Seria o vinho?
Por falar em vinho preciso encher outro copo!
Toco seu rosto como da primeira vez. Sua pele é tao macia, mas seus olhos parecem querer fugir...queriam eles fugirem ou seria apenas vinho? Toco seu rosto como da primeira vez e parte do que sentia parece querer voltar, como sempre volta e volta e foge por um segundo para depois voltar novamente, como um a filosofia de boteco feita por “Nieetztche”
A vidraça agora filtra a luz da lua em um espectro de cores inebriantes que a ilumina inteira. Bela. Como uma divindade Maia.
Não posso abraçá-la.
Não posso dizer que a amo. Que sinto muito por tudo. Ela jamais escutaria.
Limito-me então a tocar seu rosto inexpressivo
Decido se tomo mais um copo de vinho. Tomo!
Ela parece querer sorrir. Me surpreendo com o fato de não dizer o que sinto, de dizer que tudo ficará bem. Logo eu que sempre fui tão hábil com as palavras ditas me sinto indeciso. Ela percebe e ri daminha indecisão
Aproximo-me então de seus lábios reflexivos – ainda trêmulo, ainda codificado. Sinto um toque gélido de vidro temperado e a ilusão temerária (seria o vinho) cede à realidade transfigurada: saio dum devaneio tolo e me pego frente ao porta-retrato com a foto dela. Ainda imóvel. Ainda inerte. Como alguém que espera.
Deito no chão onde devem ficar os desesperados bêbados e insones, fecho os olhos e durmo feliz apenas com sua imagem gerada na retina. Imóvel. Inerte. Irracional...

2 comentários:

Unknown disse...

Mandou muito bem Saulinho!!!

Como sempre né!!

Beijos amigo querido demais!!!

Saulo Madrigal disse...

Brigado querida amiga!!!
As opnioes dos amigos são muito importantes!!!!