sábado, 18 de outubro de 2008

Espelhos e Reflexos

Ela estava de pé, na parada esperando o ônibus, imóvel e linda. Usava um vestido roxo com detalhe preto, meia calças, botas pretas, dessas que estão na moda. Ficaram muito bem nela com seus cabelos negros e presos deixando seu lindo pescoço lânguido à mostra.

Eu me locomovia de um lado para o outro na esperança de que ela me percebesse e finalmente flertássemos até que a condução chegasse ao seu destino, mas não aconteceu. Por mais que eu me locomovesse, ela não me olhava, o que não era de todo mal, uma vez que poderia contemplá-la sem que ela se sentisse constrangida.

Na fila do ônibus em questão acontecia um fenômeno chamado convergência bárbara. Todos da fila, ao avistar o ônibus juntavam-se desesperadamente em frente à porta como se o mundo inteiro fosse acabar naquele instante. Nesse dia, pela primeira vez em doze anos que tomava esse ônibus, esse fenômeno não aconteceu. As pessoas enfileiraram-se calmamente. Era evidente que atribuí essa estranha ordenação do mundo àquela distinta e linda e voluptuosa moça. Ela era tão pura e doce que acabara com todo caos do mundo...

Entramos no ónibus, pagamos nossa quota de impostos devidamente bem empregada no transporte público urbano. Ela sentou-se ao fundo e eu que sempre fui muito orgulhoso sentei-me na frente, resignado pela falta de consideração, pelo desprezo ao qual fui destinado a passar. Eu continuaria desprezado, resignado, mas isso em nada mudaria a beleza altiva dela, da moça do ônibus. Em toda viagem, sonhei com aqueles lindos olhos brilhantes e ávidos, pois estavam ávidos. Toda viagem sonhei com seus belos lábios belos que jamais tocariam os meus a não ser pela imagem virtual formado atrás do espelho da minha mente.
Quando fui descer, ainda olhei-a lânguida com a boca pequena entreaberta e antes que a porta do fundo se abrisse eu vi através do vidro embaçado.
Ela também olhava pra mim!

6 comentários:

Unknown disse...

Que fofo...

muito fofo...

rsrrs

Unknown disse...

oount, qê fofoo *.*

Não importa disse...

"pagamos nossa quota de impostos devidamente bem empregada no transporte público urbano"

vc só pode estar sendo irônico!
rsss

Detalhe mínimo: "Em toda a viajem", este viagem é com "g", como vc virá a escrever corretamente mais adiante no texto. Às vezes, escapam uns errinhos por falta de atenção, né.

Unknown disse...

"pagamos nossa quota de impostos devidamente bem empregada no transporte público urbano"
gostei da ironia!
;)

BrunoMaximos disse...

Excelente Madrigal, muito me identifiquei com este texto, ele me faz lembrar de um trecho de um texto qualquer que dizia "se faço, arrependido estarei, ou uma enorme covardia invadirá pelo que deixei de fazer por medo de arriscar."

Mas enquanto discutimos as maneiras corretas para se agir diante dessa e tantas outras circunstâncias, a oportunidade simplesmente se desfaz e passa, e já não podemos voltar atrás, passou, e talvez nunca mais tenhamos a esperança de uma próxima vez...
O medo impede a perfeição...

BrunoMaximos

BrunoMaximos disse...

Só um detalhe, a Ironia prezados, não merece o reconhecimento, ela simplesmente se afirma justamente pela indiferença que lhe é inerente, pois é o egoísmo e ar de superioridade que lhe faz brotar a inteligência sagaz. Quando se menciona a atuação da ironia, como se ela se manifestasse com a vontade de trazer a sí notoriedade, ela já não pode ser tão irônica, pois é a obscuridade que lhe dá autoridade para criticar ácidamente aquilo que não corresponde o ideal do agente ironizador. Então por favor, não desvalorizem o fragmento "pagamos nossa quota de impostos devidamente bem empregada no transporte público urbano". Tudo que esse fragmento deseja é não ser entendido, pois é muito mais que leitura a interpretação de uma crítica potencializada pelo pela ironia..